quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A Outra



 
 
 


O último roteiro do cineasta Alberto Salvá que nos deu a honra de contribuir para o projeto com essa história mágica e delicada. Foi com muita dedicação e empenho que a equipe se reuniu para filmar esse roteiro, um belo presente desse artista admirável e entusiasta do nosso projeto.
 
“A Outra” traz em si a complexidade do universo feminino, a descoberta de anseios adormecidos que a rotina sufoca e acaba por relega-los ao esquecimento. O “eu” feminino de Hortênsia desperta com a percepção da presença de Margarida. Margarida, com sua vivacidade e espontaneidade, resgata a essênca de Hortênsia, seus sonhos, sua individualidade, sua leveza.
 
E, nessa relação lúdica, nesse paralelo com o “amigo invisível” que toda criança possui, Alberto Salvá traçou, com sensibilidade ímpar, o caminho para a compreensão da alma feminina e seus muitos mistérios. É com prazer que vemos Hortênsia “destravar” e desabrochar para a vida além dos limites de seu dia a dia.
 
Filmar essa “quase fábula” foi um desafio para todos nós. Salvá seria o diretor mas, com sua enfermidade e posterior falecimento, deixou a nós do Cinema de Garagem a incumbência de transformar seu roteiro em um filme. Foi com o desejo de transpor, da maneira mais fiel possível, a essência do roteiro para o filme em si que os diretores Saulo Moretzsohn e a assistente de direção Daniela Gracindo se aliaram ao fotógrafo Leonardo Iglesias.
 
A coesão da equipe com o elenco (Raquel Maia, Andréa Neves e Eduardo Rochwerger) foram fundamentais para o sucesso dessa empreitada. Unimos esforços e corações para concretizar o desejo do mestre. Deixamos aqui o registro desse processo. “A Outra” foi finalizado e é com grande alegria que podemos dizer: missão cumprida!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Madrinha




E aí, como está o tempo em Petrópolis?” … Do outro lado da linha, a Gabriela respondeu: “Está um dia lindo! Pode vir.”
Empacotamos o bolo de chocolate assado na véspera, um rádio antigo emprestado pelo Sérgio, um monte de flores no porta-malas e partimos pra Cidade Imperial: Duda, Felipe, Dani e eu.
O roteiro havia sido escrito especialmente pra Dani. Ela gostou e não só quis atuar, como também participar da produção e execução do curta... Mas quando vinha a pergunta: “E aí, Raquel, já decupou o filme?” … eu sempre ria muito confiante e dizia que não precisava disso, eu conhecia muito bem a história que eu tinha escrito.
O problema foi que, na hora H, não saber exatamente o que eu queria em cada cena me deixou em desespero. Tínhamos só um dia pra filmar e, na dúvida, pedi pros atores repetirem milhares de vezes, pra poder pegar tudo, de todos os ângulos, em todas as direções, todos os momentos possíveis... Cada gesto, cada olhar, cada dedo mexendo... E só depois, assistindo o material todo em frente ao meu computador (com o ar condicionado ligado), eu decidiria calmamente o que usar na montagem.
Senti que a minha desorganização me fez uma diretora cruel. Tive lindas surpresas nas cenas, claro, mas poderia ter sido ainda melhor se eu tivesse um roteiro decupado como guia, aliado à imaginação do improviso livre e leve, sem o desespero de não conseguir material suficiente pra contar a história.
Bom, filmamos a fachada da igreja (que no dia estava fechada) e um senhor muito gentil nos perguntou se gostaríamos de filmar o interior. Adoramos a ideia e passeamos com a câmera pelos vitrais ensolarados, imagens do altar, escadas e sinos.
Depois seguimos pra Pousada Monte Imperial, onde filmamos as cenas da cozinha e do jardim. A Gabriela e os pais dela nos receberam com uma super boa- vontade e paciência... Só nos disseram o seguinte: “Todo mundo que filma aqui esquece o tripé da câmera. Não esqueçam o de vocês, heim?”
Dito e feito: esquecemos o tripé. Começo a suspeitar que existe um certo mistério cósmico rondando o mundo do cinema...